Desculpa, mamãe

em quinta-feira, 4 de junho de 2020


Tô indo, mamãe.
Vai com Deus, meu filho.
Cuidado na rua,
não esquece dos perigos,
arruma direito a mochila,
vê se pegou os livros,
atravessa na faixa,
manda beijo pros meninos.

Bom dia, Seu Zé, como vai?
É hora de escola, rapaz!
Vai ter campeonato no recreio,
hoje ganho do grupo inteiro.
Bolinhas de gude no último corredor.
Beleza, vou escolher e pago o senhor.

Eita, dois homens armados.
Fica aqui perto, moça.
Vai ver só querem uns trocados,
mas, se pedirem, não negue a bolsa.
Minha mãe sempre diz:
Resistir é a pior escolha.
Mas talvez não nos vejam,
vamos ficar aqui na encolha.

Barulho de sirene,
deram azar os bandidos.
A polícia por perto,
alguém para impedi-los.
Não faz isso, Seu Zé!
O barulho do tiro...
Sangra agora o bom homem,
perdi mais um amigo.

A porta está aberta
mesmo não estando tão perto.
Dá tempo, dá tempo!
Corro esperando dar certo.
Deu certo, que bom.
Já tô fora de perigo.
Por ali, seu polícia,
atiraram em meu amigo!

Talvez acudam seu Zé a tempo.
Ouço barulho, então me deito.
Que sangue é esse que eu vejo?
Essa não, é do meu peito!

 A culpa foi minha, mamãe...
Não sei como fui me esquecer
que perto da polícia
preto não pode correr,
não pode se assustar,
não pode se proteger,
só pode levantar as mãos
e então obedecer.

Desculpa, mamãe, desculpa!
Um dia a gente volta a se ver.



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