Soneca acordou num salto com o barulho da explosão. O Mestre
correu para a janela, para entender a situação. Do lado de fora, gargalhava Feliz,
o sempre animado anão, enquanto Dunga tentava inutilmente espalhar a poeirada
com a mão.
- O que foi que ele fez dessa vez? – resmungava Zangado.
- Ah, pega leve com ele. – respondeu o Dengoso.
Atchim até queria acudir o coitado, mas se acabava em
espirros o alérgico moço.
Dunga gesticulava com muita intensidade, parecendo
amaldiçoar sua incapacidade de fala. Apontava para o buraco, fazia mímicas... Os
outros olhavam e não entendiam nada.
Via-se uma fumaça roxa, que se espalhava, saindo de dentro de
um buraco escavado, aquele mesmo onde o caçula brincava, no instante em que se
ouviu o estalo.
- Ele acertou algo enquanto escavava – concluía o Mestre com
olhar concentrado.
- Que coisa é essa que explode desse jeito, e, diga-se de
passagem, fede um bocado?
Virou-se para Zangado, já acostumado com seu temperamento.
Paralisou por um momento e então balbuciou:
- Não é possível... Então será... Foi aqui que o esconderam?
- Esconderam o quê? – perguntou Dengoso.
- Algo sublime e espantoso.
- Espantoso? – questionou Soneca incomodado, enquanto Feliz
permanecia com o sorriso no rosto.
- Pois é, espantoso... – continuou o Mestre. – Há uma história
da qual resolvi lhes poupar... Mas não há mais jeito, preciso lhes contar. Sentem-se,
sentem-se – e começou a narrar. – Há muito tempo se dizia, havia um lugar, uma
espécie de lagoa no meio da floresta, onde alguns seres iam se banhar em uma
água púrpura, cor roxa como esta.
- Água roxa? – espantou-se Dengoso.
- É isso mesmo, era o que diziam.
- E o que que tem essa água? – perguntou Zangado.
- Ninguém sabe... Coisa dos antepassados. Algo aconteceu que
ninguém mais foi lá e, agora, não se sabe onde fica o lago.
Atchim pareceu decepcionado. E se Dunga falasse, ia dizer
que era uma história ruim: o começo era até interessante, mas qual a graça sem
saber o fim? Foi aí que o Mestre ficou todo misterioso e de repente resolveu
soltar:
- Há, porém, uma lenda de que alguém resolveu a água
armazenar. Em um lugar seguro teria guardado em forma de vapor a substância e
quem buscasse com perseverança, poderia encontrar. Há uma espécie de cápsula
enterrada em algum lugar, com a substância roxa prestes a se liberar, só seria
preciso encostar...
- É essa fumaça roxa que estamos a exalar? – Soneca esbugalhava
os olhos. Parecia enfim despertar.
- Ora, ora. Não se assuste. – O otimismo de Feliz a falar.
- E essa coisa tem nome? – disse Dengoso com ansiedade.
- Sim, tem um nome: Elixir da Novidade.
Nenhum deles, porém, parecia entender. Esperaram um pouco, viram
nada acontecer. A fumaça se espalhou, chegou o anoitecer, passou o alvoroço e
foram se recolher.
O dia seguinte chegou. Soneca viu os outros levantando e,
por costume, para o lado se virou, fechou os olhos e o corpo relaxou. Mas algo
o incomodou, então mais cedo levantou. Desceu as escadas e então notou que
Dunga limpava a bagunça do quintal, tapava o buraco da fumaça e tirava as
roupas arroxeadas do varal. Zangado, por sua vez, ria de uma piada do Feliz. E
este logo depois, chorava preocupado com Atchim. Atchim resolveu dar uma
caminhada, decidiu que precisava ser saudável, ou aumentava sua imunidade ou
teria uma vida fatigada. Enquanto isso, Dengoso dizia ao Mestre, com uma
firmeza admirável, o quanto às vezes lhe faltava humildade e que precisava ser
mais maleável.
Observando tudo aquilo, o Mestre se lembrou: A água do lago
fora tão consumida, que em algum momento secou. Só se podia encontrar na
cápsula, que ninguém sabe onde se colocou. Mas nela há tão pouca quantidade,
que só serviria para lembrar a quem lhe encontrasse o efeito que ela causava. Era
uma pequena experiência da sensação da novidade, que não durava muito, logo se
acabava. O efeito tinha validade.
Vendo tudo, porém,
transformando-se e seus irmãos enfim renovando-se, resolveu omitir-lhes a última
parte. Deixou que pensassem que suas mudanças eram motivadas pela substância em
ação. Quando, na verdade, era a perseverança que lhes mantinha em transformação.
E para esta não havia elixir conhecido ou mágica poção. Dependia de apenas um
recurso: o poder da decisão.
muitas vezes nas nossas vidas a gente passa por situações assim e começamos a fazer algo pra potencializar o resultado, acreditando não no que estamos fazendo, mas na tal “poção” mágica. Tomamos remédio pra ajudar na perda de peso, e nos esforçamos: dieta, musculacao. Aí quando a gente perde peso, opa, o remédio é milagroso heheheh e na verdade oq foi mais milagroso foi nossa decisão de fazer algo compatível com oq queríamos obter 💪🏼
ResponderExcluirBem rimado o texto e curioso e boa mensagem.
ResponderExcluirConforme você vai lendo cada parte do texto você vai de fato imaginando cada um dos 7 anões e suas ações. No final da história a surpresa de que a poção não faz "milagre" mas a perseverança foi o que fez todos mudarem.
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